- Thamires Santos
- 21 de ago. de 2023
- 2 min de leitura
Atualizado: 24 de ago. de 2023
Sobre o que posso falar numa análise?
“não é possível fugir de si mesmo” (Freud, 1926)
“muito frequentemente os sujeitos dizem coisas
que vão bem mais longe do que o que pensam, e que são mesmo capazes de confessar a verdade sem aderir a ela”. (Lacan 1954)

É amplamente divulgado pelo senso comum que a Psicanálise trata apenas do passado e das questões da infância, e isso não é necessariamente correto. Especialmente no início do tratamento, pode ser difícil entender do que se pretende um analista. Do que devo falar? Há uma ordem? Tenho que falar dos meus pais? Da minha infância? Não se trata necessariamente do conteúdo, mas sim em como falar. Que seja da forma mais livre possível. É importante entender de antemão que o espaço de análise é um espaço seguro, e qualquer tipo de assunto que seja importante para você também será para a sua análise e para o profissional que está escutando. Situações do dia a dia que parecem inofensivas mas que te abalam, conflitos com amigos, família, e no trabalho, até mesmo vitórias e conquistas. Compartilhar sobre filmes, séries, livros e como eles te afetam, sobre os sentimentos que estão presentes no cotidiano e que de alguma forma lhe atravessam. Essas dúvidas podem ser comuns no início do tratamento, mas só há uma regra fundamental na Psicanálise: a associação livre. A função do analista é deixar o sujeito confortável para que ele não preveja a próxima palavra a ser dita. As palavras se tornaram tão banais, e todas elas podem ser ditas de forma imprevisível. Com o passar do tempo, escutar a si mesmo deixa de causar tanta estranheza. É dessa forma que o inconsciente pode aparecer. A forma, o tempo e o momento em que ele aparece é singular, no um a um. Ao perder o medo de escutar a si e abre-se mão, também, da necessidade de ser compreendido em sua totalidade e isso tem seus efeitos. Como Lacan pontua no texto A verdade surge da equivocação, de 1954, “A palavra que o sujeito emite vai, sem que ele o saiba, para além dos limites de sujeito discorrente - ficando, certo, ao mesmo tempo no interior dos seus limites de sujeito que fala.” (p.347).